Este ano minha filha Lara, está esperando nevar desde o dia em que montamos a árvore de Natal. Aos quase 3 anos de idade naturalmente ela ainda não consegue entender essas peculiaridades das tradições natalinas. Isso me levou a uma reflexão profunda sobre o tema e suas implicações, não apenas sobre a minha pequena mas também sobre outras crianças para quem toda a festa de Natal gera inúmeras frustrações.

Embora as tradições natalinas me encantem, me sinto dividida quanto a questão cultural do Natal e essa “colonização” que nos impõem hábitos, costumes e a cultura de outros povos. Vamos combinar que a neve, os pinheiros enfeitados e até mesmo os alimentos consumidos nas comemorações natalinas não tem nada a ver com a nossa realidade tropical.
Isso está relacionado aos costumes de imigrantes europeus e também pelos modelos impostos pela publicidade. Ao invés de se moldarem à nossa cultura, ao nosso clima e aos nossos costumes, fomos nós que nos adaptamos a eles e assimilamos os valores alheios, em detrimento dos nossos.


Aliás, as tradições natalinas são uma coisa que vem se perdendo até mesmo na Europa. A festa que remonta ao nascimento de Jesus Cristo, celebrava o nascimento do Deus Sol no solstício de inverno (natalis invicti Solis) e foi ressignificada pela Igreja Católica no século III como uma forma de estimular a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano. Sai o Deus Sol e entra Jesus de Nazaré, cuja a data de nascimento é incerta.
As comemorações do Natal no decorrer dos séculos foi ganhando contornos da cultura de cada povo e elementos icônicos como o Papai Noel e árvore de Natal só apareceriam muito mais tarde.


O Papai Noel teve sua origem em São Nicolau, que foi arcebispo na Turquia no século IV e tinha o hábito de anonimamente distribuir caridade para os mais necessitados. O hábito de trocar presentes era um costume no dia 06 de dezembro, dia de São Nicolau. O bom velhinho perdeu as características de santo e ganhou uma vistosa fantasia vermelha e a figura bonachona na criação do designer norte americano Haddon Sundblom em uma campanha realizada pela Coca-Cola na década de 1930.
Já a árvore de Natal sempre foi um símbolo relacionado aos festejos do solstício de inverno para os povos pagãos,  muito antes do nascimento de Jesus. Os povos germânicos não abriram mão deste símbolo mesmo depois de se tornarem cristãos e foram copiados pelos ingleses no século XVII.


A ideia de colocar luzes na árvore de Natal foi de um assistente de Thomas Edson, Edward Johnson, em 1882. No Brasil, a primeira árvore de Natal de que temos notícia foi montada em 1902, no Rio Grande do Sul.
No nordeste as nossas tradições parecem resistir mais. Em Maceió e em várias outras cidades, os folguedos Natalinos possuem aspectos mais regionais e menos influenciados pelo “importado” e o que nos é imposto pela mídia.

No entanto, em várias partes do mundo acontece já uma nova leitura do Natal, tanto de seu significado quanto de seus símbolos. A criatividade dos designers e a revalorização do trabalho artesanal apontam novos rumos para este festejo que não mais se sustenta sobre o consumo apenas e busca um resgate da sua essência. Uma essência mais universal talvez e mais democrática.

 

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