Visitar Inhotim, o maior museu de arte moderna a céu aberto do mundo, é uma experiência singular e impossível de definir.
Localizado na cidade do Brumadinho, em Minas Gerais, a cerca de sessenta quilômetros ao sul de Belo Horizonte, Inhotim é um complexo de incríveis obras arquitetônicas especialmente construídas para abrigar uma das mais ricas coleções de arte. E tudo isso instalado em meio a uma vegetação exuberante e belíssimos jardins projetados por paisagistas renomados, reunindo plantas de todos os lugares do planeta.
Idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980, o projeto foi inspirado no modelo de negócio da Disneylândia, nos Estados Unidos e é hoje uma referência mundial, atraindo turistas dos 5 continentes.
A arquitetura é minha paixão, seguida de perto pelo meu amor à arte e à natureza. Conhecer Inhotim era mais que um sonho, era quase uma obrigação que, apesar de ter viajado já por vários lugares do mundo, só recentemente fui realizar.
O acervo de 269 obras expostas em 35 galerias permanentes, reúne artistas consagrados como Adriana Varejão, Tunga, Jonathan Monk, John Ahearn, Iran do Espírito Santo, Hélio Oiticica, Cerith Wyn Evans, Cildo Meireles, Chris Burden, Paul McCarthy, Olafur Eliasson e Rivane Neuenschwander, entre muitos outros.
Entre tantos artistas e obras impressionantes, destaco a fantástica a experiência de estar na galeria Adriana Varejão. O galpão que abriga as obras desta que é um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, foi projetado por Rodrigo Cerviño Lopez, é um dos mais impressionantes do Inhotim. Em 2008, foi premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.
Cuidadosamente pensado para permitir uma experimentação que vai além da contemplação, o espaço nos faz mergulhar em um universo de referências barrocas mescladas aos contraditórios ambientes do nosso cotidiano como açougues, banheiros públicos, saunas e etc.
Me surpreendi vendo tão de perto a técnica da artista que remete à azulejaria mineira, inspirada pelos azulejos portugueses do colonialismo, usada de forma poética e chocante para provocar reflexões sobre tudo o que está por trás das contruções, do decorativo.
Outra galeria que me chamou a atenção é a de Tunga. Inhotim possui a maior coleção no Brasil de obras deste artista multidisciplinar que faleceu em 2016. E a True Rouge, um de seus mais emblemáticos trabalhos, é um grande conjunto de 130 redes içadas, dentro das quais pode-se ver uma infinidade de conteúdos que vão de esponjas marinhas a bolas de bilhar, tudo em vermelho e orquestrado em uma composição ao mesmo tempo viva e agonizante.
A obra instalada em uma edificação debruçada sobre um pelo lago e com grandes paredes de vidro que, não por acaso, a integram à natureza. Aquela obra tão forte e pulsante ilhada em um cenário natural de exuberante beleza é realmente marcante.
Minha visita a Inhotim foi em um dia chuvoso e cinzento. O som da chuva e a sensação do molhado criou uma atmosfera introspectiva e favorável para reflexões e divagações filosóficas.
Todo brasileiro precisa conhecer Inhotim. Para criar uma identidade realmente brasileira precisamos primeiro conhecer tudo o que nosso país tem de melhor. E Inhotim é uma delas.