Fazer arte
requer antes de tudo talento e muita disposição para trabalhar pesado, muitas
vezes sem o devido reconhecimento.  Ainda
mais quando o campo de atuação é a moda, onde o tempo corre muito mais rápido e
o “novo” literalmente apaga o que lhe antecede.
Há exatos 10
anos tudo isso foi mostrado de maneira surpreendente por Jun Nakao, em um
lendário desfile no São Paulo Fashion Week. Com roupas feitas em papel vegetal
sobre modelos caracterizadas como bonecos Playmobil, Nakao teceu uma crítica
visionária ao processo de industrialização da moda e a falta e identidade do
consumidor.
O material
inusitado foi trabalhado em estampas e bordados preciosos, com uma riqueza de
detalhes e acabamentos absurdos, compondo peças que deixaram extasiados os
especialistas e críticos de moda presentes.
Mas a
surpresa maior viria mesmo no final, quando as modelos fizeram a última entrada
e rasgaram as roupas diante de uma plateia estupefata. Era como se
Nakao dissesse “Passou, acabou, você não poderá consumir e, muito menos
ignorar, isso.
Felizmente,
todo o processo de produção, da criação ao desfile, foi registrado em vídeo e
fotos dentro do projeto “A Costura do Invisível”, lançados posteriormente em
filme e um livro em edição limitada, hoje raríssimo e objeto de desejo de todo
designer. 
No entanto,
no ano passado Nakao lançou em parceria com a Schuster uma linha de móveis
assinados por ele, com várias peças remetendo ao desfile de 2004. São
poltronas, cadeiras, mesas e luminárias com nomes como harmonia, equilíbrio,
aconchego, nuvem…
O flerte de
Jun Nakao não é recente e virou namoro em 2012 quando foi homenageado pela Casa
Cor e ganhou um ambiente dentro da mostra.
Embora isso
não signifique uma mudança de segmento do criador, certamente no design de
mobiliário seu trabalho terá vida infinitamente mais longa que no fugaz mundo
da moda.
Fotos: Schuster, SPFW, FFW Magazine e Trend Tips.