Nascida Achillina Bo, Lina Bo Bardi completaria hoje 100 anos.
Formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma na década de 39, Lina trabalhou com Gino Ponti, montou seu próprio estúdio em Milão e em parceria com o arquiteto Bruno Zevi, com quem funda a revista semanal A Cultura Della Vita.
Em 1946 casa-se com o jornalista Pietro Maria Bardi e clima de destruição na Europa marcada pela Segunda Guera Mundial leva o casal a migrar para o Brasil onde em pouco tempo se transformaram em referência e icônes da arquitetura e das artes no período modernista e pós modernista brasileiro.

A arquitetura surpreendente de Lina, fértil em soluções arrojadas e vernaculares, criam um confrontamento entre o moderno e o popular, como uma diferenciação, um “fenômeno de ruptura”. Caminho também seguido por Sérgio Ferro e Francisco Bolonha, entre outros.

A questão da cultura popular e das tradições vernaculares construtivas possui desdobramentos próprios para estes arquitetos em seu diálogo com a arquitetura moderna.





Lina Bo Bardi se destaca pelo entendimento sobre cultura popular e sua distinção de folclore. As experiências de Lina Bo Bardi com o universo da cultura popular investiga toda a sua possibilidade de atuação no campo da produção moderna com outras especificidades.
Em Lina Bo Bardi, moderno é a escala das preocupações, o alcance social dos projetos, a relação projeto/cidade, seu espaço contínuo, o uso de tecnologias disponíveis e a preocupação com a transformação dos meios técnicos de produção. Moderna é a qualidade das aspirações para a existência deste projeto, o desejo pleno da participação democrática e de uma vida pública coletiva para seus usuários.

Também pode-se entender que em Lina Bo Bardi, popular é o procedimento de relacionar as coisas, os materiais e operacionalizar referências culturais; é uma ação de “fazer fazendo” e de invenção plástica sobre as referências. Popular é a digna vitalidade dos espaços e sua singela materialidade, própria para espaços públicos. Moderno é o modo de Lina Bo Bardi tomar a cultura 
popular. 

Apesar de suas obras mais conhecidas serem o MASP e a Casa de Vidro, o SESC-Pompéia é o mais emblemático e significativo dentro do pensar Lina Bo Bardi. A velha fábrica transformada em um lugar perfeito para atividades de arte, cultura, entretenimento e bem estar restaurou a vitalidade e o porquê daqueles galpões, que 
ressurgiram como um espaço público dinâmico.

O sucesso do projeto está justamente na apropriação popular de suas possibilidades espaciais, incorporadas ao cotidiano dos usuários que usam as quadras poliesportivas, a piscina, vêem as exposições, conversam, etc. A expectativa da arquiteta era criar um projeto vivaz, um espaço multifuncional para ser compartilhado e usado por todos, estimulando uma vitalidade urbana popular, moderna.

Lina discorreu sobre o tema em seus artigos na revista Habitat nos anos 50 e se desdobram no mobiliário desenhado pelo Studio Palma [1948-1950] e culmina na Bardi’s bowl [1951], o seu móvel projetado para a indústria.

O projeto de recuperação do Teatro Polytheama, em Jundiaí, reaberto após mais de 20 anos de abandono, chegando a correr risco de desabamento,  foi um dos últimos trabalhos de Lina e infelizmente executado apenas parcialmente até os dias de hoje.

“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito.”

Lina morreu em 1992.