Stripe é a palavra em inglês para listras. Ela vem do
verbo to strip, que significa privar e punir. É difícil imaginar que algum dia
a simples combinação de duas cores tenha tido um significado tão pesado e cruel
mas as listras, que hoje podem aparecer em um desfile da Padra ou em um
editorial de luxo da Casa Vogue, já tiveram dias bem menos glamourosos.
Em 1254 um grupo de religiosos carmelitas causou grande
tumulto em sua chegada a Paris. Vindos de Jerusalém, eles usavam vestes
listradas, uma padronagem indigna para cristãos pois era associada aos islâmicos.
As listras, na antiguidade, eram de uso exclusivo para
aqueles que não eram considerados bons cristãos: Prostitutas, bastardos, coxos,
artistas, boêmios, doentes mentais, hereges e condenados à morte.
No início da Idade Média elas distinguiam também as
profissões tidas como menos nobres: Açougueiros, ferreiros, moleiros e
serviçais menos qualificados.

O estigma sobre as listras começou a cair com o
surgimento da heráldica. Os brasões eram tão importantes quanto o sobrenome
para uma família e quase todas elas tinham um, não apenas os nobres, como a
gente pensa.

Nos séculos seguintes as listras se tornaram mais
comuns. No vestuário das pessoas “comuns” ela passou a ser usada como padrão de
pijamas e roupas íntimas (que outra padronagem seria indigna a ponto de poder
viver em contato com as “partes sujas” do corpo?), passaram peças com mais
visibilidade, entraram e saíram de moda muitas vezes.. Mas resquícios do
preconceito persistiram até a metade do século XX, com o uniforme dos judeus
nos campos de concentração nazista.

 

Na decoração o mito das listras caiu após a Revolução
Americana e o uso das listras na bandeira dos Estados Unidos. O patriotismo
pedia e incentivava o uso das listras azuis e brancas em praticamente tudo. O
uso de peles de animais mortos em safáris na África (esporte das altas elites europeias)
também virou moda. As zebras e tigres esticados aos pés das lareiras vitorianas
eram símbolo de ostentação e poder.
O auge das listras na decoração aconteceu nos rebeldes
anos 20, com forte influência do movimento dadaísta europeu e a cultura do jazz
nos Estados Unidos. Hoje podemos optar ou não pelo uso das listras baseando
nosso julgamento apenas no gosto pessoal. Ainda bem. 
Fonte: Livro “O Pano do Diabo” de Michel Pastoureau e o
blog O Armário da Carlota