A urbanização das cidades hoje em dia impacta diretamente a qualidade de vida das pessoas e condiciona novas formas de se viver, a partir dos espaços gerados e produzidos.

Quando pensamos hoje nos condomínios residenciais verticais fechados, paramos para pensar em como se chegou a essa tipologia? Alguns sim e outros não. Algumas pessoas vêem estes espaços como oásis nos grandes centros urbanos. Muitos sonham e destinam grande parte de suas economias para este tipo de moradia, acreditando que morando lá estarão salvas da violência urbana e isentas do compromisso social com o restante da cidade.
Não discordo deste tipo de solução, mas fico pensando que poderia ser diferente se a urbanização fosse um pouco mais valorizada no âmbito geral.

 

Entende-se como urbanização o processo de transformação de uma sociedade ou espaço de rural para urbano a partir de implementação de infraestrutura urbana e industrialização de processos produtivos, em termos gerais.

Considerando esta linha de pensamento, pode-se pensar que a urbanização nunca acaba, e sim se transforma.
Uma cidade é um espaço para constante transformação, objeto de obras de infraestrutura urbana públicas, ou por grandes investimentos imobiliários. Existem bairros residenciais que foram inteiramente transformados em espaços comerciais, e muitos espaços industriais que foram transformados em comerciais e até mesmo residenciais, ou seja, as necessidades se modificam com o tempo.

Por isso acredito que a construção do espaço pode interferir muito positivamente na vida das pessoas, considerando a cidade como protagonista no cenário da inovação e do consumo motivando o desenvolvimento econômico.
Avaliando desta forma, o papel do arquiteto e urbanista é de extrema importância para o planejamento das tomadas de decisões ao se projetar o espaço, seja ele público ou privado. A construção não está somente na edificação dos espaços, mas está também na construção das interações entre pessoas, e de sua relação com a utilização integrada dos espaços públicos e privados.

Um condomínio fechado garante uma série de benefícios, mas impede uma maior interação com a cidade de maneira livre, criam-se grandes muros, grandes cercas e portarias dotadas de várias passagens com grades. Soma-se aqui a questão da segurança pública, mas o morador de um condomínio deste uma hora tem que sair e se deslocar para a escola, para o mercado, para um comércio, enfim, as interações são constantes, e fica vulnerável também. E porque as construções não podem ser livres e belas?

É uma retórica muito difícil de ser respondida em minha opinião, mas acredito que uma interação entre agentes do poder público e privado podem criar mecanismos de favorecimento de mobilidade urbana como indutores no processo de urbanização com qualidade.


Quem não gostaria de morar ao lado do trabalho, ou ter ao lado de sua moradia todos os serviços e equipamentos a disposição?

Sabemos que o valor de terrenos em áreas centrais é muito alto em função de vários benefícios de acessos e equipamentos, o que condiciona a produção de espaços cada vez menores para viabilizar financeiramente o investimento imobiliário neste setor.
Então como solucionar isto? Morar em condomínio de casas com grandes áreas e espaços de lazer fora do centro da cidade, mas que precisa de um deslocamento grande entre moradia e trabalho, ou morar em condomínio vertical bem localizado no centro, em apartamento com área reduzida, espaço gourmet na varanda e área de lazer de condomínio? Esta pergunta não tem resposta certa a meu ver, cada um define o que é melhor para sua família, mas nós arquitetos e urbanistas temos que desenvolver nosso papel social como agentes transformadores do espaço, ao nos posicionarmos firme e eticamente ao propor um planejamento sustentável.

Uma pessoa que tem que se deslocar pouco para o trabalho, e não enfrenta o caos de um trânsito recorrente nas grandes cidades, pode dispor de mais tempo para sua família em atividades pessoais e de lazer, o que resulta em uma relação positiva na produtividade em ambientes de trabalho, que pode proporcionar de maneira indireta o desenvolvimento de sua empresa com foco no crescimento econômico.

Esta tendência de espaços reduzidos e integrados é crescente e não vemos somente em países bem desenvolvidos, vemos aqui no nosso país mesmo. Facilmente podemos ver grandes lançamentos imobiliários anunciando apartamentos com espaços reduzidos, serviços compartilhados, e uso comercial na torre ao lado. O mesmo raciocínio, de espaços compartilhados já observamos em escritórios e cozinhas de uso coletivo para locação temporária.

Ao projetar podemos gerar interação entre pessoas, serviços e comércios de maneira sustentável e sem grandes deslocamentos desnecessários.
O uso racional do espaço é a palavra de ordem, e relacionamento e interação entre as pessoas deve ser nosso objetivo de vida!

 

Texto de Larissa Carbone

Fotos e Ilustrações: Jacek Yerka, The Guardian, FreePik e Amazingarchitecture.net